quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Documentário “Negro Lá, Negro Cá”

Documentário cearense sobre racismo é selecionado para festival de cinema em Portugal

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Andy Monroy, um dos entrevistados para o documentário. Foto: Divulgação

O documentário “Negro Lá, Negro Cá”, do jovem cineasta Eduardo Cunha, não foi só um Trabalho de Conclusão de Curso: Sergipe, Rio de Janeiro e até Portugal tiveram ou terão a exibição do filme em três festivais importantes do gênero. O trabalho traz reflexões do racismo sofrido por imigrantes africanos residentes em Fortaleza, no Ceará.

Em entrevista concedida para o portal da Rádio Verdes Mares, Eduardo conta que a ideia veio por meio de conversas com um amigo de Cabo Verde, Andy Monroy. “A gente sempre conversou sobre o racismo e outras questões referentes à adaptação dele e de outros estudantes aqui em Fortaleza”, explica.

O filme foi selecionado para três festivais até agora. O primeiro foi para o XV Encontros de Cinema de Viana do Castelo, em Portugal. O filme foi exibido em maio deste ano. Em seguida, foi selecionado para o 5º SERCINE – Festival Sergipe de Audiovisual e será exibido em outubro de 2015. O mais recente foi o Visões Periféricas, que acontece em agosto, no Rio de Janeiro. Além desses festivais, Eduardo pretende receber novas seleções de outros eventos de cinema nos quais inscreveu o documentário.

Confira o teaser de “Negro Lá, Negro Cá”:

Inicialmente, Eduardo, que é recém-formado em Publicidade e Propaganda pela Unifor, quis acompanhar o cotidiano de alguns imigrantes e fotografá-los, mas “por sugestão do meu professor Wilton Martins, que é fotógrafo e sociólogo, resolvi fazer um documentário. Tratar do racismo num produto audiovisual traria mais possibilidades de fazer as pessoas se questionarem sobre o assunto”, enfatiza.

No documentário, são entrevistados os africanos Andy Monroy (Cabo Verde), Alfa Umaro Bari (Guiné-Bissau), Cornelius Ezeokeke (Nigéria) e Manuel Casqueiro (Guiné-Bissau). “A história de vida de cada um é muito rica e isso se reflete na fala deles. O filme busca trazer inquietação em quem assiste e tenho percebido que o ‘Negro Lá, Negro Cá’ tem cumprido esse papel”, revela Eduardo, entusiasmado.

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O diretor Eduardo Cunha. Foto: Thaís Mesquita

Para ele, a repercussão do filme pode fazer com que as pessoas se aproximem do problema que é o racismo e do quanto isso pode ser agressivo. “Gosto de fazer a comparação do filme com uma cadeira, ou um objeto qualquer, em chamas. De longe, podemos nos dar conta de que aquele fogo pode ser prejudicial para nós, fisicamente. Algumas pessoas podem não perceber e precisar chegar mais perto para sentir o calor do fogo e, a partir daí, entender o risco que ele pode representar. Outras pessoas, mesmo estando perto, podem não se dar conta e só perceberem a agressividade do fogo quando se queimarem. Aí elas estarão tendo a experiência mais intensa possível”.

Eduardo Cunha faz parte do 202b, uma equipe cearense dedicada a desenvolver um trabalho que transita em linguagens como vídeo, fotografia, pintura e desenho.

Por: verdinha às 17:34 de 07/08/2015 – Verdes Mares

domingo, 22 de novembro de 2015

Um presente de amigo, recordações

 

Fotos eram poucas e raras, no movimento popular. Recebi há pouco do Carlos Benedito Silva, um presente, uma foto de uma audiência com a então prefeita Luiza Erundina, no seu gabinete no Parque Ibirapuera.

Prefeita Luiza Erundina

Participávamos do Grupo “Participação das Bases” e estávamos desenvolvendo o “Mutirão Saúde Qualidade de Vida através da “Experiência Comunitária – ExCo” por volta de 1989 ou 1990. Participantes do Movimento Negro, com uma visão que tínhamos de lutar por cidadania e questionar a exclusão do povo negro e periférico. Carlão (Carlos Benedito Silva) lutava por condições de moradia, e juntos participávamos do PMDB, na época uma frente AINDA com vários partidos de esquerda, tentando manter a chama do antigo MDB, dos nossos companheiros Esmeraldo Tarquínio e Oscarlino Marçal, onde o lema era a frase altiva:

“Negro, mas não somente negro. ” Mas isso já é outra história.

Participação das Bases 087

A velha camiseta de recordação

Com essa audiência o “Mutirão Saúde – Qualidade de Vida” conseguiu através da Prefeita Luiza Erundina que fosse calçada a primeira entrada para a Comunidade do Heliópolis (na época a Favela do Heliópolis). Uma entrada tão íngreme, que não resolveria só o asfalto nos dias de chuva, segundo a Comunidade.

Lembrei desse fato quando estive na COHAB 2, com os companheiros angolanos buscando apoio do Movimento das Mães de Maio, lembrava da prefeita Erundina pisando no barro, subindo rampas, entrando em barracos se emocionando. Nossa juventude de luta.

Ontem depois de tantos anos encontrei a deputada Luiza Erundina na Plenária da Raiz, agradeci a sua Moção em Prol dos manos presos políticos em Angola por liberdade de expressão, e a repercussão internacional que teve sua ação no Congresso Nacional.

Contei da foto presente que recebera, do amigo Carlão, e como foi bom lembrarmos dos movimentos agindo nas periferias com a administração envolvida e presente. Independente de partidos, apoiando os movimentos populares.

Participação das Bases 088

O símbolo do megafone e a lembrança do velho MDB, tentativa de um movimento dentro de um partido.

Até hoje guardo a camiseta, fragmentos de sonhos. Sonhados juntos realidades.

Obrigado prefeita, deputada Luiza Erundina, nossos respeitos.

Hugo Ferreira Zambukaki

Fotos: Acervo Carlão (Carlos Benedito Silva)

Jô Muniz

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

O "racismo cordial brasileiro" mata mais uma vez.

 

Bata

Em 2012 quando ocorreu o ataque aos estudantes angolanos no Brás, nossa irmã Zulmira Cardoso morreu assassinada com um tiro na cabeça. Nesse momento foram organizados protestos e surgiu uma "Mobilização Zulmira Somos Nós" outros casos de mortes e violências foram levantados na época contra africanos e caribenhos. No dia da manifestação em frente a Secretaria de Justiça, denúncias de morte e violências contra imigrantes latinos americanos em São Paulo, totalmente ignorados pela polícia e mídia tradicional.

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Surge nas mortes a invisibilidade dos descendentes de escravisados: “Índios” nativos da América e africanos, todos escravisados pelos “colonizadores europeus” diferentes mas negros (termo usado para escravizados) : “negros da terra” (índios) e “negros da guiné”. Todos periféricos e excluídos do sistema.

Por serem negros (pretos) recebem o ódio de uma sociedade que ainda não sabe lidar com o passado de ter sido o maior país escravagista do mundo. O que fazer com os descendentes de ex-escravizados no Brasil? Exclui-los e confinar nas periferias, erguer grandes muros, guaritas, e uma força policial destinada a proteger à propriedade particular dos privilegiados. Erguer muros, barreiras em shoppings, condomínios e praias.

Os imigrantes e refugiados, não tem a "paciência" ou a malícia do negro brasileiro de não responder à provocações, quando reagem à essas provocações, são violentamente espancados ( caso dos estudantes angolanos na USP que roubados, foram reclamar para a polícia confundidos com ladrões apanharam da polícia) ou morrem como Zulmira Cardoso a angolana que iria voltar diplomada morta com um tiro na cabeça ou o haitiano Fetiere Sterlin morto recentemente com dez facadas no peito.

Sterlin 

O haitiano Fetiere Sterlin

Os movimentos negros na sua retomada nos anos 70 tinham uma ampla articulação com os movimentos africanos  e da Diápora africana. Havia contato com Angola, Moçambique, Cabo Verde, África do Sul,  França e Estados Unidos.

Hoje muita coisa se perdeu, quando se fala em uma ação pan-africanista de solidariedade, há setores que dizem: “temos de nos preocupar com os nossos problemas, do genocídio da juventude negra no Brasil…” Esquecem que separados não somos tão fortes, e que o Brasil pouco ou nada aparece na mídia internacional. Essa visão de um projeto de união pan-africanista surge forte quando os movimentos contra a violência do estado contra a população negra, pobre e periférica (Amparar, Mães de Maio, Mães do Cárcere) se unem em apoio ao pedido de solidariedade aos presos políticos angolanos: Liberdade Já! #liberdadeja

O que apoiar em cenários políticos complexos e distantes. A mídia tradicional brasileira é voltada para uma visão eurocentrista e norte-americana. Nessas horas é que surge a voz forte do poeta Solano Trindade “pernambucano que se instalou no Embu das Artes em São Paulo).

Solano Trindade Negros

 

Mães de Maio: Liberdade já! Aos jovens angolanos presos.

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Cohab 2 Itaquera Zona Leste SP

Importantes organizações dos movimentos negros e periféricos unem-se no pedido da libertação dos jovens ativistas angolanos entre elas a OLPN (Organização pela Libertação do Povo Negro) , Círculo Palmarino, Conen (Coordenação Nacional de Entidades Negras), o SOS Racismo da Assembleia Legislativa de São Paulo através de sua coordenadora Eliane Dias. Vários rappers e músicos brasileiros se unem à luta dos rappers angolanos. Um deles é Chico César.

SOS Eliane (26) (1024x576)

Luiza Erundina deputada brasileira apresentou em seu pronunciamento hoje, no parlamento federal, uma moção de apoio aos presos políticos angolanos e apelo à ‪#‎LiberdadeJá dos 15+2. A moção será encaminhada ao Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos.

 

Hora de organizar uma frente, contra as violências racistas contra africanos e caribenhos no Brasil. É essa a proposta da Mobilização Diáspora SP."

Hugo Ferreira Zambukaki

Fontes:

Discurso da deputada Luiza Erundina https://www.youtube.com/watch?v=PcWtEbH0-jM

http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/10/19/haitiano-e-assassinado-em-navegantes-sc.htm

Estudantes estrangeiros da USP são espancados pela polícia militar, após reagirem a provocações racistas
Leia a matéria completa em: Estudantes estrangeiros da USP são espancados pela polícia militar, após reagirem a provocações racistas - Geledés http://www.geledes.org.br/32721/#ixzz3pIwWNmEi
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O "racismo cordial brasileiro" mata mais uma vez.

 

Bata

Em 2012 quando ocorreu o ataque aos estudantes angolanos no Brás, nossa irmã Zulmira Cardoso morreu assassinada com um tiro na cabeça. Nesse momento foram organizados protestos e surgiu uma "Mobilização Zulmira Somos Nós" outros casos de mortes e violências foram levantados na época contra africanos e caribenhos. No dia da manifestação em frente a Secretaria de Justiça, denúncias de morte e violências contra imigrantes latinos americanos em São Paulo, totalmente ignorados pela polícia e mídia tradicional.

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Surge nas mortes a invisibilidade dos descendentes de escravisados: “Índios” nativos da América e africanos, todos escravisados pelos “colonizadores europeus” diferentes mas negros (termo usado para escravizados) : “negros da terra” (índios) e “negros da guiné”. Todos periféricos e excluídos do sistema.

Por serem negros (pretos) recebem o ódio de uma sociedade que ainda não sabe lidar com o passado de ter sido o maior país escravagista do mundo. O que fazer com os descendentes de ex-escravizados no Brasil? Exclui-los e confinar nas periferias, erguer grandes muros, guaritas, e uma força policial destinada a proteger à propriedade particular dos privilegiados. Erguer muros, barreiras em shoppings, condomínios e praias.

Os imigrantes e refugiados, não tem a "paciência" ou a malícia do negro brasileiro de não responder à provocações, quando reagem à essas provocações, são violentamente espancados ( caso dos estudantes angolanos na USP que roubados, foram reclamar para a polícia confundidos com ladrões apanharam da polícia) ou morrem como Zulmira Cardoso a angolana que iria voltar diplomada morta com um tiro na cabeça ou o haitiano Fetiere Sterlin morto recentemente com dez facadas no peito.

Sterlin 

O haitiano Fetiere Sterlin

Os movimentos negros na sua retomada nos anos 70 tinham uma ampla articulação com os movimentos africanos  e da Diápora africana. Havia contato com Angola, Moçambique, Cabo Verde, África do Sul,  França e Estados Unidos.

Hoje muita coisa se perdeu, quando se fala em uma ação pan-africanista de solidariedade, há setores que dizem: “temos de nos preocupar com os nossos problemas, do genocídio da juventude negra no Brasil…” Esquecem que separados não somos tão fortes, e que o Brasil pouco ou nada aparece na mídia internacional. Essa visão de um projeto de união pan-africanista surge forte quando os movimentos contra a violência do estado contra a população negra, pobre e periférica (Amparar, Mães de Maio, Mães do Cárcere) se unem em apoio ao pedido de solidariedade aos presos políticos angolanos: Liberdade Já! #liberdadeja

O que apoiar em cenários políticos complexos e distantes. A mídia tradicional brasileira é voltada para uma visão eurocentrista e norte-americana. Nessas horas é que surge a voz forte do poeta Solano Trindade “pernambucano que se instalou no Embu das Artes em São Paulo).

Solano Trindade Negros

 

Mães de Maio: Liberdade já! Aos jovens angolanos presos.

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Cohab 2 Itaquera Zona Leste SP

Importantes organizações dos movimentos negros e periféricos unem-se no pedido da libertação dos jovens ativistas angolanos entre elas a OLPN (Organização pela Libertação do Povo Negro) , Círculo Palmarino, Conen (Coordenação Nacional de Entidades Negras), o SOS Racismo da Assembleia Legislativa de São Paulo através de sua coordenadora Eliane Dias. Vários rappers e músicos brasileiros se unem à luta dos rappers angolanos. Um deles é Chico César.

SOS Eliane (26) (1024x576)

Luiza Erundina deputada brasileira apresentou em seu pronunciamento hoje, no parlamento federal, uma moção de apoio aos presos políticos angolanos e apelo à ‪#‎LiberdadeJá dos 15+2. A moção será encaminhada ao Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos.

 

Hora de organizar uma frente, contra as violências racistas contra africanos e caribenhos no Brasil. É essa a proposta da Mobilização Diáspora SP."

Hugo Ferreira Zambukaki

Fontes:

Discurso da deputada Luiza Erundina https://www.youtube.com/watch?v=PcWtEbH0-jM

http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/10/19/haitiano-e-assassinado-em-navegantes-sc.htm

Estudantes estrangeiros da USP são espancados pela polícia militar, após reagirem a provocações racistas
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terça-feira, 29 de setembro de 2015

Movimento Negro brasileiro lutas da Diáspora africana

 

O Movimento Negro brasileiro, lutas da Diáspora Africana

Nesse momento os angolanos em vários locais do mundo se unem numa frase: “Liberdade Já!”, pedindo a liberdade para os presos políticos de Angola. Jovens que se reuniam numa casa em Luanda, capital de Angola, estudantes, professores e jornalistas, que se opõem ao presidente José Eduardo. Segundo os ativistas organizavam manifestações pacíficas.

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A acusação do governo sob suspeita de conspirar e tramar a derrubada do presidente José Eduardo dos Santos, no poder há 36 anos.

As provas apresentadas pela polícia foi um livro “Da Ditadura à Democracia” do escritor americano Gene Sharp, usado durante a “Primavera Árabe”. Especula-se que o medo de uma Primavera Angolana, num país em crise econômica, tenha levado o governo a agir.

Mães de presos

Há cem dias um grupo de mulheres e parentes dos 15 prisioneiros, jovens de 18 a 37 anos, mantidos em celas solitárias desde junho se mobilizam .

A tarefa de chamar a atenção da população, num país onde imprensa, cortes e sociedade civil são dominados pelo Estado é das mais difíceis. "Queremos que a comunidade internacional pressione, só assim o governo ouve", diz Marcelina de Brito, cujo irmão, o professor Inocêncio, 29, é um dos presos.

As mulheres fizeram duas manifestações em Luanda, ambas reprimidas pela polícia. "Vieram com porretes, soltaram os cães em cima de nós".

O governo afirma que o grupo tinha planos de convocar uma "insurreição".

"As consequências desta rebelião seriam incalculáveis. Seria como uma bola de neve. Inicialmente podia ser que nada acontecesse, mas também podia acontecer tudo e, como se diz, mais vale prevenir do que remediar", disse o vice-procurador-geral da República, Hélder Grós

No dia 28 de agosto houve manifestações em apoio aos presos políticos, em Luanda, Lisboa, Berlim e São Paulo. Manifestantes angolanos, defensores dos Direitos Humanos e do movimento da Diáspora uniram-se ao pedido de: “Liberdade Já! ” .

O que ocorre em Angola? Conversando com diversos militantes dos movimentos negros brasileiros, a primeira pergunta que surge: “Quem está contra é de direita? ”

Essa pergunta é extremamente pertinente, principalmente dos antigos militantes dos movimentos negros. Durante os anos de Ditadura Militar aqui no Brasil, havia uma ligação da iniciante organização do chamado “Moderno Movimento Negro” iniciado nos anos setenta com os movimentos de libertação africana.

O Brasil da Ditadura (mascarada com eleições indiretas no Congresso) tinha como estratégia a ocupação dos espaços políticos e econômicos das antigas metrópoles na África. Principalmente os países colonizados por Portugal. Uma controvérsia onde se reprimia a oposição, com cadeias, extermínios, assassinatos de prisioneiros, torturas, força policial e militar, abria-se uma via diplomática com movimentos revolucionários de esquerda.

Nós na época jovens entrávamos em contato com participantes, da Frente de Libertação de Moçambique FRELIMO, com angolanos participantes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) que havia conseguido sua liberdade em 1974/75. Na época em São Paulo e em vários estados brasileiros, questionávamos a comemoração dos “Noventa Anos” da chamada Abolição que ocorreria no dia 13 de maio de 1978. O 13 de maio era comemorado com o governador indicado pelo presidente militar, e a chamada “comunidade negra” que apoiava os militares, ou que dizia que: “não devemos contestar a ditadura militar pois não é problema nosso”. O saudoso poeta professor Eduardo de Oliveira resumia muito bem: “Não podemos nos considerar uma comunidade, uma comunidade se apoia, se ajuda. Infelizmente não existe comunidade negra. ”

Além de termos contestados em 1978 as comemorações do 13 de maio, no dia 7 de julho ocorreria o ato no Teatro Municipal para a criação do Movimento Unificado contra a Discriminação Racial, que mais tarde se tornaria o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial.

O primeiro Caderno Negros editado em 1978, teve poesias de Cuti (Luiz Silva) e Hugo Ferreira, encenadas num teatro francês alternativo, como demonstração de críticas sociais e exclusão da população negra no Brasil.

Além de mera lembrança de um velho militante, surgem agora documentos que a repressão da ditadura: “Com medo de que a luta pela igualdade racial crescesse à luz de movimentos internacionais como o Panteras Negras e se voltasse contra a polícia, a ditadura passou a seguir os passos de militantes e reuniões do embrionário movimento negro brasileiro”

“Havia uma preocupação da ditadura de que ideais do movimento armado Panteras Negras, por exemplo, e da luta dos direitos civis americanos pudessem chegar aqui. Por isso, o regime acompanhou vigilantemente manifestações políticas e encontros. ” (Segundo a socióloga Flavia Rios, autora da tese Elite Política Negra no Brasil: Relação entre movimento social, partidos políticos e estado.) Angela Davis que foi a grande musa nos anos 70 esteve várias vezes no Brasil, expressando-se em português.

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A preocupação não era só com os negros americanos. Os arapongas da ditadura relatam no segundo semestre de 1978 em Salvador, “agitadores angolanos no movimento negro, caracterizados como refugiados da guerra civil”. Ruth Neto irmã do presidente Agostinho Neto esteve no Brasil, e entrou em contato com militantes do movimento negro.

Estima-se que 42 dos 434 mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura eram negros. E o que é ser negro no Brasil, uma auto definição e uma postura política. A definição de si (auto definição) e a definição dos outros .... antes de tudo uma posição política. (professor Kabengele Munanga)

Durante a formação dos novos partidos, tentando evitar-se a dispersão dos militantes da oposição contra a Ditadura Militar, surgia em São Paulo a “Frente Negra Para Ação Política de Oposição” cuja sigla “FRENAPO” remetia-se a “Frente Negra Brasileira” e a “FRELIMO” de Moçambique.

Em fevereiro de 1990 faziamos uma comemoração à libertação do preso político mais importante da África do Sul, Nelson Mandela, em plena Praça da Sé em São Paulo chamada Festa da Liberdade.

Festa da Liberdade

Um pouco antes das eleições na África do Sul, Mandela veio pessoalmente ao Brasil em agosto de 1991, para buscar apoio político no caso de vencidas as eleições, fosse impedido de assumir. Em 1995 as centrais sindicais sul africanas (pós Apartheid) e norte americanas vieram ao Brasil, para organizar a participação nas comemorações do Tricentenário de Zumbi dos Palmares. Não se comemora o treze de maio, questiona-se o catorze de maio dia seguinte da “abolição” ou exclusão do descendente de negros (escravizados) indígenas ou africanos, que vivem nas periferias do sistema.

Havia uma preocupação de uma visão pan-africanista dos dois lados do Atlântico.

E agora o que ocorre em Angola?

Nada melhor que uma explanação clara de quem acompanha os acontecimentos em Portugal e Angola. Encontramos essa visão no artigo “O rap e o ativismo pelos direitos humanos em Angola - parte 1” da Professora Doutora Susan de Oliveira em Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Brasil.

“Nos últimos cinco anos, entre 2011 e 2015, observamos o aparecimento e a frequência de protestos políticos em Angola, notadamente em Luanda, organizados por jovens sem filiação partidária direta ou militância institucional. Em 2013, esses jovens ficaram conhecidos como fundadores do Movimento Revolucionário Angolano (MRA) e fazem parte da geração que soma a herança de duas guerras, a de Independência (1962-1974) e a Civil (1975-2002) e que estão, portanto, vivendo um recentíssimo período de paz ao mesmo tempo em que percebendo o limite do que restou do projeto de nação após esses conflitos. Eles são os descendentes dos revolucionários que dedicaram suas vidas à luta pela independência que culminou no atual regime o qual se anunciava socialista e democrático em seus primórdios, mas mostrou-se o contrário disso ao longo dos anos. Hoje, essa geração mais jovem enfrenta, sem perspectivas, as mazelas de um país capitalista e profundamente desigual que prospera economicamente e cultiva, a despeito disso, um caos social decorrente da falta de políticas públicas em vários setores - como saúde, educação, habitação, saneamento básico, emprego - e do ataque sistemático aos direitos humanos promovidos pelo atual governo de José Eduardo dos Santos que assumiu o poder em 1979, sucedendo a Agostinho Neto (1974-1979), então falecido. O MPLA que governa desde 1974, sendo José Eduardo dos Santos o presidente nos últimos 36 anos, enfrenta por seu turno a indignação de opositores entre os quais os partidos históricos UNITA e FNLA, e os mais recentes BD (Bloco Democrático), CASA-CE (vConvergência Ampla da Salvação de Angola), PDP/ANA (Partido Democrático para o Progresso/ Aliança Nacional de Angola) e esse jovem Movimento Revolucionário apartidário que expressa a revolta social com mais veemência que os cinco partidos políticos juntos.”

Num momento em que imigrantes, refugiados de guerra, e estudantes, da Diáspora Africana vivem no Brasil e sofrem além dos problemas de adaptação o xenofobismo, racismo e intolerância. Podemos citar desde o ataque em 2012 aos estudantes angolanos no Brás onde foi assassinada a jovem formada Zulmira Cardoso, que se preparava para retornar a Angola, aos ataques com espingarda de chumbinho aos haitianos na Missão de Paz em São Paulo, e o ataque ao senegalês em Santa Maria no RS em 2015.

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Mães, irmãs, manifestações em Luanda, Lisboa e São Paulo – Brasil

Ao pedido de solidariedade, em defesa da liberdade de expressão é que nos juntamos à solidariedade mundial pan-africanista: Liberdade Já! Aos presos políticos de Angola

 

Fontes: - Jornal Folha de São “Angolanas expõem abuso de presos políticos” artigo de Fábio Zanini Colaboração para a Folha, em Luanda

- Carta Capital: “Como a ditadura perseguiu militantes negros” artigo de Marsílea Gombata

- Buala: “O rap e o ativismo pelos direitos humanos em Angola - parte 1” artigo de Susan de Oliveira - (Pós-doutorada em Literatura Comparada pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (2015); doutorada em Literatura (2006), mestrado em Literatura (2001) e graduação em geografia (1993), todos pela Universidade Federal de Santa Catarina entre algumas titulações da professora pós doutorada)

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Imigrantes e refugiados no Brasil

Momento de reflexão e ação

O maior foco é o preconceito existente na imigração aos africanos e seus descendentes (no caso do Brasil os haitianos). O que devemos ou podemos fazer como grupo.

Em Londrina, uma atitude covarde foi transformada em exemplo de gentileza e solidariedade:
Na manhã de hoje, um senegalês foi alvo de ofensas racistas e preconceituosas. Uma moradora da região, jogou na direção dele uma banana, o xingou e ainda o agrediu com um tapa.
Uma senhora incomodada com a situação, pediu desculpas ao rapaz e disse que o povo brasileiro não é assim. Que orgulho desta atitude!
Por um mundo com mais amor, mais senhora como esta e menos preconceito!

Fonte:Rede Massa

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Não é uma questão acadêmica, nem palavreado. Uso meios de transporte de massa e todo dia encontramos uma quantidade grande de africanos e haitianos que vivem nas periferias da Grande São Paulo.

Manifestação Zulmira

foto Hugo Zambukaki

Em 2012 participamos com um grupo de jovens estudantes angolanos, das manifestações contra os autores dos tiros que mataram a jovem angolana Zulmira Cardoso, e atingiram mais quatros estudantes angolanos no Bairro do Brás em São Paulo. Não são apenas bananas que jogam.

Por força da Mobilização Zulmira somos nós e apoio do Consul de Angola em São Paulo Belo Mangueira presente por 13 horas com os estudantes angolanos durante o julgamento, um dos acusados foi condenado à 37 anos.

No dia da Manifestação em frente à Secretária da Justiça em São Paulo outras mortes e desaparecimentos foram relatados e aí também por sul-americanos (paraguaios e bolivianos). Na época pensou em tornar-se a Mobilização uma ação permanente dos grupos do Movimento (ou mesmo dos que agem sem entidades). Não foi levado à frente por vários motivos, mas está chegando a hora de pensar novamente em uma ação dos vários grupos em uma Frente de ação. Há em São Paulo imigrantes ou refugiados de mais de 20 países africanos. Hora de reflexão e ação.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Liberdade para os presos políticos de Angola!

Liberdade para os presos políticos de Angola! O garoto sírio Aylan morto na praia, a morte de Cristian Andrade, quem matou os 19 de Osasco/Barueri, cadê o Amarildo?

O QUE EU TENHO COM ISSO?

Difícil entender quem somos nós. Viver nossa vida, com os limites de nossos olhos, ou olhar o mundo?

Há muitos anos entendi que para tentar compreender a história do Brasil, tinha de entender a história do mundo. Quem somos, nossas limitações, nossas barreiras?

Apenas uma grande motivação tenho, não sou cidadão de segunda classe, lutei contra ditaduras, e minha família enfrentou outras. Mais meu pai nasceu em 1898 dez anos depois da “abolição” sofreu preconceitos e barreiras, enfrentou e venceu numa história de superação que admiro.

Vivo o meu tempo, quando era jovem, saímos às ruas questionando a Ditadura Militar, às violências policiais, o determinismo social que pregava que no Brasil “não existia racismo, enquanto o negro soubesse seu lugar”. Ninguém nasce negro no Brasil, torna-se com as barreiras que lhe impõem, e você descobre que tem barreiras na sua própria família, a ideologia da dominação das diferenças lhe é ensinada.

Momento atual, vivemos uma crise do capitalismo, onde o cobertor é curto, e o sul do planeta (explorado, sugado pelo norte) fica ao descoberto. Migrações e refugiados tem diferença? Procurar vida melhor para você e sua família, desejo ancestral que fez a Humanidade migrar da África e colonizar o planeta. Vejo migrantes, refugiado na minha rua, vejo nativos originais (“índios”) pedindo esmola com um artesanato afirmando sua cultura.

Venho de uma época, onde vivíamos uma “luta de libertação da África” ou as guerras coloniais, junto com a luta contra a Ditadura Militar no Brasil. Apoiávamos um preso político da África do Sul, que depois veio à ser presidente, sonhávamos com um militante poeta que também veio à ser presidente em Angola. Fizemos manifestações na frente do Consulado da África do Sul na Paulista, na Praça da Sé comerando a liberdade do preso político pelo Regime do Apartheid, Nelson Mandela.

Festa da Liberdade

Hoje África do Sul e Angola, não são os sonhos libertários de Mandela e Agostinho Neto. Procure se informar e apoie a luta dos protagonistas dessa luta. É por isso que apoio e repito a fala de mães, mulheres e irmãs:

“LIBERDADE PARA OS PRESOS POLÍTICOS DE ANGOLA! ”

“QUEM MATOU OS 19 DE OSASCO/BARUERI? ”

“CADÊ OS AMARILDOS? ”

“ZULMIRA SOMOS NÓS! ”

Tantos são os nomes dessas “mortes severinas”, uma luta internacional que começa na esquina de nossa casa, nossas bandeiras são manchadas do sangue escorrido no chão. Separar, dividir colorindo é função do opressor, e ele não seria forte se não tivesse aliados entre os oprimidos.

Hugo Ferreira Zambukaki

Liberdade Já Angola (1024x766)

Apoie a Petição: Liberdade Já aos presos políticos de Angola!
http://www.peticaopublica.com.br/viewsignatures.aspx…

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Cartas para minha irmã angolana

Histórias que você conta são significativas Judith Luacute. Tenho um momento que ao relembrar as lutas, numa reunião as emoções embargavam minha fala e marejavam meus olhos. Josi companheira e esposa registrou em vídeo minha fala emocionada
Momentos não escritos em livros, mas infelizmente vivenciados por nós em nossas vidas, e esses nossos depoimentos deveriam ser registrados para não serem esquecidos. Por serem nos magoarem ferem nossos sentimentos.
A Universidade de São Paulo, surgiu de uma derrota militar do estado de São Paulo perante a Ditadura Vargas. A Revolução de 1932 teve em suas fileiras inúmeros negros e índios, não só em batalhões formados de voluntários, mas nos quadros do Exército Brasileiro que lutaram contra a Ditadura.
O negro brasileiro escravizado, buscava uma forma recuperar sua liberdade e restaurar sua cidadania. O Exército desde a Guerra do Paraguai (1864/1870) contou com uma maioria de soldados negros. Participar do Exército era uma forma dos negros e pardos livres se inserirem na sociedade brasileira. A Escola Militar de Resende RJ formou oficiais militares vindos das camadas populares (década de 20 e meados de 30). O subcomandante militar de São Paulo era o coronel Palimércio de Resende negro.

 Coronel Palimercio Coronel Palimércio de Resende subcomandante da Revolução de 1932 em São Paulo

Meu pai tenente Ferreira foi dos tenentes revolucionários que lutaram contra a Ditadura, teve sua perna metralhada e só não ocorreu a amputação porque fugiu do hospital no dia marcado. Sobreviveu e nasci em 1946.

Tenente Ferreira e companheiros de farda (185x260) (276x389)

Tenente Ferreira (José Ferreira da Silva meu pai) ao centro assinalado com companheiros de farda “tenentistas” .

Perdida a Revolução de 32 contra a Ditadura, a elite criou um projeto de formar lideranças da burguesia paulista, surgia aí a USP a Universidade de São Paulo.
Se na Revolução de 1932 havia espaço para as classes populares (negros, índios e pobres) lutarem, não havia espaço na Universidade criada. Daí a surpresa do segurança negro em barrar sua entrada. Quem lutou e derramou o sangue por São Paulo é barrado em entrar na USP pela profunda desigualdade social que existe no Brasil.
Posso dizer que a situação piorou desde a sua vinda, tive contato com jovens estudantes angolanos, amigos de Zulmira Cardoso a jovem morta em 2012 por racistas brasileiros no Brás, e um deles me dizia: “-Conheci o que era o racismo brasileiro, quando desci no Aeroporto. ”

Zulmira bata
Há uns seis meses estudantes angolanos da USP, foram espancados pela polícia, quando um deles teve seu celular roubado e com ajuda dos amigos tentou recuperar dos ladrões. Na briga ocorrida chamaram a polícia, que chegando bateu em quem era mais escuro (no caso os estudantes angolanos).
Esses fatos não são locais, é uma questão mundial. Não só dos africanos da Diáspora causada pela escravização, mas hoje pela imigração. A África continua sendo espoliada e explorada, intervenções militares dos países ditos civilizados destruíram estados nacionais instalando o caos forçando a saída desses países. Se parte da Europa e o Estados Unidos são ricos é em função de uma política imperialista e exploradora de países ditos subdesenvolvidos.
Lutamos, tentamos nos organizar, coloquei hoje fotos que registrei uma manifestação de nossos companheiros em frente ao Palácio do Planalto em 2012. O caminho é longo...
Que suas memórias e as nossas formem uma união efetiva entre nossos povos em lados diferentes do Atlântico, mas irmãos em luta e coração. Grande abraço amiga, companheira de luta, minha irmã.

Hugo Ferreira Zambukaki